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Província do Pará - Abril de 1970
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Assis Chateaubriand
[Ilegível] dois anos, na data de hoje, falecia em São Paulo Assis Chateaubriand, fundador dos Diários e Emissoras Associados", o jornalista que exerceu [ilegível, (influência?] verdadeiramente impar no campo do [ilegível, (conhecimento?)]ento brasileiro.
----[ilegível]ado de espírito pioneiro, que o destaca[ilegível] pôs num plano exclusivo, em todos os [ilegível, (meios?)] em que atuou, na imprensa, no radio na televisão e na filantropia, diplomata [ilegível, (professor?)]or, catedrático de Direito, repórter e [ilegível]ico, "ás" de campanhas inéditas de [---ade, semeador de museus, de bibliotecas, centros de puericultura, de [ilegível]ade, aeroclubes, criador de gado de apurada [ilegível]m, incentivador do apuro da cultura do [ilegível] de outras técnicas agrícolas, seu nome [ilegível] sozinho uma época.
Quando desapareceu, deixou aos brasileiros de todos os quadrantes de nossa terra, im[ilegível]el herança cultural, corporificada nos “Diários e Emissoras Associados". O complexo de empresas que formam o nosso quadro re[ilegível]a, por certo, um dos mais fortes liames [ilegível]ade nacional, por isso que não apenas [ilegível]odos os rincões do pais, por mais longínquos que sejam, a sadia orientação para um comportamento coletivo, como, de resto, neles, recolhe as mais puras palpitações da vida cívica da nação.
É inegável a sua influencia nas modificações sociais, econômicas e políticas operadas em nossa terra, desde que iniciou a sua atuação, no "O Jornal", célula-mater da organização que logrou construir, graças ao seu gênio espetacular de improvisação e a superestimação das potencialidades que se lhes abriam. No seu dinamismo, aparentemente, quase que possuía, por assim dizer, o condão sobre-humano da ubiquidade.
Sabia, para isso, utilizar, com luxo oriental e fabuloso desperdício, os recursos disponíveis de comunicação : o telégrafo, o rádio, o telefone. Ainda em vida, tornou-se quase lendário. Quebrava, com airoso desprezo, os tabus do protocolo, quer se achasse numa feira do interior ou em solene cerimônia do Buckingham Pálace.
Seus modos insólitos davam-Ihe fascinante relêvo à personalidade. Foi cortejado por grandes e pequenos. Sabia descobrir vocações onde quer que essas surgissem, no jornalismo, na política, no empresariado. Bafejou o surto de empresas e de instituições. Onde quer que chegasse, era uma força em marcha, Mesmo siderado nos seus movimentos, ainda por muito tempo, foi o excelso comandante da sua grei.
Como entendesse, muito justamente, que a sua obra era imperecível, escolheu dentre os seus companheiros aqueles que, em grupo harmônico e devotado, haveriam de sucedê-lo. Esse pugilo de seus amigos e discípulos tomaram como ponto de honra a manutenção dos "Diários e Emissoras Associados", nos mesmos moldes em que Assis Chateaubriand os concebeu e sustentou. O compromisso assumido vem sendo mantido, com empenho que tem algo de religiosidade.
Os "Diários e Emissoras Associados", depois dele, como, decerto, seria do seu desejo, cresceram mais, com a incorporação de novos órgãos.
No segundo aniversário de sua morte, a decisão de manter e acrescer a valiosa herança ainda mais se afirma, como imperativo de dever sagrado.
1° Caderno P. 2ª.
O museu e o seu fundador
P. M. Bardi
(Diretor do Museu de Arte)
Transcorre-se mais um ano da ausência do Sr. Assis Chateaubriand. Mais uma oportunidade para se relembrar do fundador do Museu que sonhava um dia ver a popularidade que a casa vai ganhando agora cada vez mais. A rocha que lembra a figura do nosso patrono, no incisivo lapidário ditado por Menotti Del Picchia, o chama de "criador de monumentos". O Dr. Assis foi, de fato, um iniciador de empreendimentos grandiosos e antecipadores, superando mesmo os limites mais arrojados, em expansão continua e lançados no tempo. O Museu foi um destes empreendimentos e nele o dinâmico fundador dos "Diários e Emissoras Associados" aplicou todo o entusiasmo e energia própria dos que se decidem a vencer. E foi a sorte pois sem ele a museugrafia brasileira jamais teria progredido assim tão impetuosamente.
Tivemos a felicidade de participar da iniciativa desde o seu projeto inicial. Contamos, nos próximos anos, completar o trabalho que foi programado, em 1946, para ser cumprido no período de 20 a 25 anos isto é, no espaço de uma geração.
A cultura marcha sem empurrões.
Nascemos numa pequena sala da sobreloja da sede, ainda em construção, dos "Diários Associados" a rua 7 de Abril; passamos, em seguida, a ocupar um andar e, depois, um outro e, ao fundarmos as escolas, mais dois andares. Hoje estamos no edifício, que a arquiteta Lina Bo projetou em 1960, da Avenida Paulista, construído pelas várias administrações municipais que se sucederam nestes dez anos. O Museu que o Sr. Chateaubriand dedicou ao povo, ao povo foi entregue simbolicamente pela Rainha Elizabeth há dois anos, fato este que encheria de contentamento o antigo embaixador à Corte de Saint-James.
A instituição, em sua nova sede, teve aumentada consideravelmente a frequência às suas salas. Com entrada franqueada ao público, o Museu é visitado diariamente por cerca de mil pessoas, em sua grande maioria jovens; os escolares não só da Capital como de numerosas cidades do interior e de outros Estados da União, bem como os turistas, não deixam de conhecer as pinturas e as esculturas de importância internacional conservadas na Pinacoteca.
Passamos, como bem o disse o Sr. Rogério Giorgi, presidente em exercício do Museu, na última reunião de diretoria, de uma situação de uma galeria de caráter particular contendo uma grande coleção, porém mal conhecida, à situação determinante de um Museu que incide na cultura artística não só de São Paulo como na de todo o país.
De fato, não é demais afirmar que o Museu representa atualmente, e representará mais ainda no futuro, o centro de atividades de vulto, pelas possibilidades que a Municipalidade nos proporcionou num ambiente ideal para realizar um programa de atividades a altura de uma metrópole. Temos salas para o acervo e para exposições de caráter temporário — como a da "A Mão do Povo Brasileiro" que apresentou cerca de 4.000 objetos — auditórios para aulas e conferências, um teatro para audições de música, cinema, reuniões com 500 lugares, um Belvedere que comporta 5.000 pessoas e no qual serão realizados espetáculos ao ar livre. Nele já foram apresentadas exposições de escultura com a participação do público.
O instrumento esta pronto para funcionar em plena eficiência. O senhor governador Abreu Sodré, a quem se deve reconhecer e aplaudir o incentivo inusitado que vem dando ao desenvolvimento da cultura em São Paulo, e cujos benefícios serão de toda a nação, assinou, nestes dias, um Convênio com o Museu para a execução de um programa didático e cultural: cursos, conferências, exposições e publicações serão promovidos. O Convênio será atentamente executado e, mensalmente, será apresentado um relatório a Comissão Estadual de Cultura dando conta de todas as atividades desenvolvidas e em execução.
Além do Governador do Estado o Eng. Paulo Salim Maluf, Prefeito de São Paulo, determinou a participação do Município nos empreendimentos do Museu, com a simpatia e o apreço que ele tem para com os problemas culturais da cidade que mais cresce (em problemas) no mundo, sendo o problema cultura — desde o da alfabetização ao dos institutos científicos e artísticos— um dos mais complexos.
Deve-se dizer, de passagem, que tanto o Governador Abreu Sodré quanto o Prefeito Maluf marcam suas presenças no incentivo à cultura com fatos de se frisar: a recente homenagem ao maior pintor da história brasileira, Cândido Portinari, com a inauguração da sua Casa de Brodosqui, por parte do Governador do Estado e a exposição de seus desenhos no Conjunto da praça Roosevelt, patrocinado pelo Prefeito Municipal. Se se for permitido ao diretor do Museu um comentário, é de se constatar que nos últimos vinte anos nem o governo do Estado nem o do Município se interessaram pelos problemas culturais de modo marcante. Circunstâncias políticas, necessidade de balanço, outra necessidades mais urgentes obstacularam um interesse mais aprofundado para com os problemas acima expostos. O saudoso Prefeito Faria Lima, determinando a inauguração do edifício colocou o Museu numa posição de nova responsabilidade. Agora é a hora de se estruturar tudo o que foi feito no passado, formar o quadro dos funcionários técnica e adequadamente preparados, atender as necessidades elementares, iniciar o novo período abrindo mais a visão das finalidades educacionais. O Museu tem 23 ano,. neste período foram reunidas muitas façanhas, foram cometidos, também, erros. Tivemos altos e baixos. tivemos de vencer contrariedades de todos os tipos e circunstâncias, incompreensões. Mas o ativo é bastante consolador e consagrado numa prestigiosa literatura internacional.
De qualquer maneira deve-se proclamar, e a conversa e dirigida especialmente aos solapadores do trabalho alheio, que a obra erigida pelo Sr. Assis Chateaubriand, fundador do Museu, inventor de uma corretíssima filosofia museugráfica, generoso e espirituoso patrono, essa obra, como dizíamos, transcende a qualquer crítica, e a sua memória merece a lembrança mais grata pois não a fez para sí mas para a coletividade.
1° Caderno P. 2ª.
Grande passado histórico do prédio onde vai ser o museu de arte
O ato do governador Alacid Nunes, visando transformar o prédio ocupado anteriormente pela Alfândega e, atualmente, pela Delegacia Fiscal e Receita Federal, em Museu de Arte de nosso Estado encontra certa receptividade de vez que se trata de um prédio com grande passado histórico, testemunho de acontecimentos ligados à fundação e desenvolvimento de nossa cidade.
Pedro Teixeira, quando regressava de sua expedição ao Amazonas, deixou em Belém dois frades da Ordem N. Sa. das Merces, os quais encarregaram-se da fundação da Igreja
convento das Merces que, com a evolução da cidade, viria, mais tarde. a transformar-se em prédio de utilidade para repartições e que no momento, com a transferência das principais dependências do Ministério da Fazenda para outro local, encontra-se parcialmente ocupado ainda por repartições fazendárias. Na expectativa de que o imóvel seja desocupado inteiramente, a instalação do museu teria muita oportunidade de vez que ficariam reunidas em um só sitio as peças representativas da arte do nosso passado.
HISTÓRICO
Em 1640, Pedro Teixeira destacou de sua expedição conquistadora, os frades Pedro de La Rue Cirne e João da Mercê, pertencentes à Ordem de Nossa Senhora das Merces. Os dois iniciaram, enquanto a expedição seguia seu rumo, a construção da Igreja e do Convento das Mercês. Em taipa e palha.
No dia 29 de agosto, depois de estabelecidas as edificações, São Raimundo Nonato, uma rebelião foi deflagrada através de um ato efetivado em frente a Igreja que se constituiu em uma tentativa de sequestro do capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Pedro Cezar de Menezes.
Fracassada a rebelião o Governador foi para o Forte do Castelo e mandou invadir o Convento. Tal atitude do gestor estadual prendia-se ao fato de estarem envolvidos na conspiração alguns religiosos do Convento e mais o juiz do povo João dos Santos, além de outros elementos. A implicação dos religiosos. constatada apos as investigações iniciadas, constituía-se na facilitação da fuga de alguns dos insurretos o que motivou maior rigorismo da autoridade constituída contra os ocupantes da Igreja e do Convento.
TRANSFERÊNCIA
No ano de 1794 os mercedários foram expulsos do Pará através do Aviso Régio datado de 24 de maio que sequestrava os bens dos mesmos e os incorporava à Coroa. O imóvel constituído para instalação da ordem expulsa, passou a ser ocupado pela Irmandade Militar de Santo Cristo, a qual anteriormente a isto funcionava na Igreja de Santo Alexandre.
Apos esta ocupação por um órgão público, outros sucederam-se sempre aproveitando as instalações instituídas pelos mercedários. Veio a Alfandega, a Casa da Parque, a Casa da Praça do Comércio, a Recebedoria Provincial, o 10.° Batalhão de Caça, o Arsenal de Guerra e o 5° Corpo de Artilharia.
Na data de 26 de abril de 1808, uma Carta Regia determinava a ampliação da Casa do Parque até o Beco do Açougue onde ficou localizado o Trem de Guerra.
Ocupado muitos anos por órgãos públicos e ultimamente pelo Ministério da Pazenda que mantinha no prédio a extinta Alfandega e recentemente a Secretaria da Receita Federal, transferida agora para o edifício da Associação Comercial, pensa agora o governador Alacid Nunes transformá-lo em Museu de Arte do Pará, que viria reunir todas as obras histórico-artística de nosso Estado que no momento se acham dispersas, seja na Igreja de Santo Alexandre, São João, Santo Antônio, e mesmo na posse de colecionadores particulares num só prédio.
Dias 5 e 6, 1° Caderno P. 10ª.
Neste Prédio poderá ser instalado o futuro Museu de Arte do Pará
Em frente / Restaurante & Bienal
O jovem arquiteto Paulo Chaves Fernandes já tem pronta a maquete do restaurante que pretende construir no final da avenida AlmiranteTamandaré, cujas obras serão iniciadas dentro em breve.
Por falar em Paulo Ferandes: ele vai enviar a Bienal da Bahia o trabalho que foi recusado (por ter sido entregue fora do prazo) no recente concurso de pintura promovido pelo Banco Lar Brasileiro. Participará, também, da futura Bienal de SP.
2° Caderno P. 3ª.
Nu artístico outrora e hoje
NOVAS DIMENSÕES QUE A ARTE EMPRESTA A INTERPRETAÇÃO DA FIGURA HUMANA
MORAL DAS CIVILIZAÇÕES NAS SUAS IMPLICAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO SEXUAL
CONVEM dizer de saída, que nesta reportagem, não nos anima absolutamente ir além de um tratamento rápido do que o nú pode representar para o público de hoje, possivelmente diferentemente do que foi outrora. Essa diferença esta simplesmente no fato de que presentemente a nudez abunda por todos os cantos, da capa às grandes reportagens farta e insinuosamente ilustradas, ate o mais despercebido anúncio comercial de uma revista que entra normalmente no lar das famílias, mesmo as mais preconceituosas. Uma especie de jeito, — de modo que se foi generalizado, e agora olhar uma foto das inúmeras que ilustram a imprensa escrita, e das que aparecem na imprensa "olhada", seja a TV, não choca ninguém. Ao assunto vamos todos nos habituando, e ele começa a parecer coisa tão vulgar, como encontrar na página de um jornal ou de uma revista, num filme como numa projeção de TV, a apresentação de uma paisagem ou um figurino da moda. Não vamos tratar aqui o assunto em sua extensão, mas vamos nos limitar a aborda-lo na medida singela em que ele pode enquadrar-se no interesse que sempre despertou o nu (feminino como masculino), na obra de arte. E possivelmeme dar ao leitor a oportunidade de tirar conclusões próprias, do que hoje representa uma dessas figurações artísticas e o que as mesmas valeram outrora, possivelmente conclusões idênticas que as mutações das condições em que os preconceitos de moral podem haver tornado com o tempo dimensões diferentes. O que para um adulto já foi uma imagem nua numa obra de arte, quando só o desenho, a pintura e a escultura ofereciam condições de perpetuar tais imagens e o que foram essas mesmas imagens para uma criança conservada no estreito limite das convenções morais do passado. E o que se pode passar no presente, quando a própria arte tomou novas dimensões expressionais, e não se limita àquelas técnicas clássicas, mas possui agora as possibilidades da fotografia que chega ao poder de comunicação imediata e fácil do cinema e da TV para a grande massa popular.
MORAL E CIVILIZAÇÃO
Nudez, imoralidade, pornografia, obscenidade, tudo parece haver se encontrado num terreno comum, para aqueles que não conseguem livrar-se dos antigos preconceitos de moralidade social, moralidade essa que, se estudarmos bem, com curiosidade segura, a história da humanidade, veremos que não primou sempre por um padrão semelhante. E não é apenas o tempo que muda, as identidades da moral, no passado, mas também os diferentes povos, e até, isto é importante, as diferentes religiões. Alcança a sociedade hoje condições de desenvolvimento intelectual, que lhe permite formar novos caminhos para o que foi obediência a boa moral e o que deixou de sê-lo. Reconhecido isto, não será uma censura marcada por prevenções fora desse avanço, que algo de positivo se obterá. Todo um modo educativo condizente deverá ser posto em prática, que se faz totalmente diferente das perseguições que outrora encontraram justificativa, muitas vezes hipocritamente, em legislações moralizadoras convenientes ou que assim pareciam. Sempre pelo alcance da educação criteriosamente dirigida, poder-se-á criar novamente essa desejada harmonia entre a curiosidade, o desejo, a liberdade de um pensamento novo, com as conveniências de um modus vivendi de grupo, a sociedade, a que está naturalmente ligada a criatura humana nas civilizações por ela própria conformada em rítmo permanente e eterno da evolução.
Fatos que se vêm sucedendo ultimamente no Brasil, levam a acreditar que não só não se esta cogitando de
enfrentar" o novo processo educativo da massa popular, que hoje encontra toda a forma de estimulantes no próprio e irrefreável correr do progresso social, material e moral (ou evolução se assim se quiser chamar o progresso), comoo se vai perdendo a noção de certos critérios que ja se enquadraram em costumes bons. Para bem entender o que dizemos é preciso atender as - reais dimensões do homem e da sociedade civilizada atual, para se saber a medida justa de certas restrições, para que elas não ponham as autoridades num ridículo confronto com o hábito generalizado e não mais de subordinação possível aos critérios de moral ou imoral que já deixaram, há muito, de valer. Não importa se a foto de uma famosa obra de arte é reproduzida em um ''poster" (moderno cartaz, que mais vale como gigantesca estampa de arte para ornamentação provisória num ambiente). Afinal essa mesma obra (o "David", de Michelangelo), para tomá-la como exemplo geral, há séculos, pelos processos mais diversos de reprodução satisfez aqueles que não podem possuir originais. Está no caso o fato relevante da educação pela obra de arte. A reprodução de um quadro, como qualquer estátua em praça pública por particularidade do tema que a inspirou, vai atuar desde a educação sexual para a massa popular. Essa a razão que sempre justificou divulgar intensamente a obra de arte, desde o museu à praça publica, e que só se fez ampliar, com o nu como exemplo (e é o motivo desta reportagem), ganha a obra de arte um poder excepcional de rigor educativo, não só estético, mas sexual, porque aquele deve processar-se posterior a este. Com educação sexual, o prazer estético poderá ser autêntico.
AS ESTATUAS "PELADAS" DO RIO
Julgar da intenção boa ou má de quem oferece ao público o contato permanente com uma obra de arte num museu, numa praia, etc., será promover as mais errôneas condições de julgamento que possa levar a condenação por pormografia ou obscenidade. Sempre houve os que numa obra de arte só viram incitamento à pornografia. Daí a oportunidade de ser alcançado um objetivo educativo, através da obra de arte e das novas técnicas que esta hoje possui, de expor a massa popular, habituando-a ao que lhe poderia parecer, por ignorância e desábito, um incentivo á malícia. As estatuas nuas nas praças públicas tiveram sempre essa admiravel virtude, — a de educar sexualmente, a de habituar a gente ao corpo humano em sua naturalidade. Por isto os falsos moralistas gostariam de fazer retirar todas as estátuas nessas condições que ornamentam nossos jardins e esconder em salas privativas, as obras de arte que mostram nus nos museus. Estes têm uma errada concepção do que seja educação.
Como nos gigantes centros, o Rio de Janeiro, felizmente possui também suas estatuas nuas. Pena que não as possua em maior número, e que até mesmo nas escolas, como outrora sucedia nos estádios gregos, não haja a obrigatoriedade de grupos escultóricos e painéis ornamentais onde os meninos e os jovens se familiarizassem com a natureza humana. Nos países nórdicos a estatuaria que representa o nu, com o máximo naturalismo, é facilmente divulgado e precisamente como fator educativo sexual. Nossas fotos registram alguns dos belos mármores e bronzes que ornamentam logradouros públicos cariocas, ou postos de fácil alcance. Duas imponentes, obras de Bruno Giorgi, "Juventude" e "Moça de pé", estão junto ao Palácio da Cultura (MEC); cópias admiráveis de R. Bernardelli, em mármore de Carrara, justamente com outras obras igualmente expressivas enriquecem o vestíbulo e as galerias do Museu Nacional de Belas Artes; o "Manequinho" e essa figura adorável de garôto fazendo pipi que já entra nas coisas característicaa cariocas, assim como o primeiro "Manequinho" (Maneken-pis) é simbólico na velha Bruxelas (Belgica) desde o século XVI, é visto em uma de suas praças principais, e vem sendo imitado no mundo inteiro. Convém lembrar que o nosso "Manequinho" é obra do artista brasileiro Belmiro de Almeida (N. 1858-F. 1935).
Ainda outras estatuas a que o público se habituou : — a "Maternidade", mármore, de Celso Antonio, feito para o salão da sobreloja do Palácio da Cultura, e que hoje se encontra no jardim da Praia de Botafogo, — muitas outras esculturas poderiam ser citadas, como as suntuosas figuras femininas em bronze do Chafariz da Praça da Bandeira (transferido da Praga Quinze). E no Jardim Botânico está a Ninfa Eco, estatua em ferro do Mestre Valentim (N. 1750-F. 1813), fundida no Rio de Janeiro em 1783 ao tempo do vice-reinado de Luiz Vasconcellos, para completar o antigo Chafariz das Marrecas, este, em parte na Praça General Osório. Foi a primeira estátua feminina nua colocada em praça pública, no Rio.
Para dar um exemplo do poder de educação sexual do nu através as oportunidades artísticas, basta lembrar esta experiencia do próprio repórter: — os estudantes das escolas de arte, logo que nelas ingressam, demonstram-se envergonhados quando se lhes defrontam a estatuaria de nus que sereve de modelo para o desenho e até mesmo os modelos naturais que posam nus nos ateliers de pintura e de escultura; mas tudo se torna a coisa mais natural do mundo, com o habito. Crianças que são levadas por seus professores a museus de arte passam a não mais maliciarem sobre as insinuações do sexo.
"Maternidade", mármore do escultor Celso Antônio, nos Jardins da Praia de Botafogo
"Vênus", estátua greco-romana, numa cópia em mármore do scultor brasileiro R. Bernadelli, no vestíbulo do M.N.B.A.
"Môça", em granito pelo escultor Bruno Giorgi, no vestíbulo do palácio da Cultura (M.E.C.)
"Manequinho", já tredicional figura de garôto na Praia de Botafogo, obra de Belmiro de Almeida
"Juventude", grupo em granito, de Bruno Giorgi, no Pátio do Palácio da Cultura (M.E.C.)
2° Caderno P. 5ª
Em frente / Pinacoteca
O embaixador Mário Santos, que no momento se encontra em Belém esteve em visita ao palácio "Antônio Lemos" (PMDB). Assessorado pelo coronel Walter Silva, ficou bastante impressionado com a pinacoteca ali existente, até mesmo salientando que é uma das mais belas que conhece. Ótimo.
12 e 13. s/d.
Em frente / Exposição & Curso
Rolando Villa, o aplaudido pintor peruano radicado entre nos, está em grandes atividades objetivando a exposição que pretendo promover dentro em breve, na Galeria "Angelus" do Teatro da Paz, apresentando seus mais recentes trabalhos.
Enquanto não chega a hora e a vez da mostra, Rolando Villa vai mantendo o seu curso do pintura e desenho diariamente, das 16 as 18 horas, na Mundurucus ( as inscrições para o curso, ressalte-se, estão sendo feitas no próprio estúdio do pintor, na Piedade). Entre os alunos de Villa estão os jovens Pedrinho e Leonardo Renda e Roberto Araújo.
s/d.
Em frente / Villa
O pintor Rolando Villa recebendo importante convite: para participar do Salão Nacional de Arte Moderna, a ser promovido pela Comissão Nacional de Belas Artes do Ministério da Educação a acontecer no Museu de Arte Moderna do Rio.
Por falar no consagrado pintor: ele acaba de fazer a entrega ao Govêrno do Estado das telas retratando os ex-presidentes Arthur da Costa e Silva e João Goulart, que integrarão a galeria do salão dos presidentes do Palácio "Lauro Sodré". Mais sobre Rolando Villa: acerta os detalhes finais para a realização de uma grande exposição de seus mais recentes trabalhos, que deverá ter lugar na Galeria " Ângelus", do Teatro da Paz.
21 e 22. 2° Caderno P. 3ª.
Quem é Augusto Rodrigues?
Augusto Rodrigues, Um Artista
Texto: Celina de Farias
Quem vai ao largo do Boticário, no Rio de Janeiro, não pode deixar de conhecer Augusto Rodriguez, figura extremamente comunicativa. La, ele reside há mais de doze anos, e Iá recebe todos os amigos, porque em matéria de coleção, a única que lhe interessa é a de cultivar amigos, O Largo permitiu-lhe deitar numa rêde, "porque passei a ter uma varanda", e ver a mutação infinita de verde, a renovação constante da paisagem, dando-lhe a possibilidade muito maior para meditação.
Desenha, fotografa, escreve, é um artista, mas, quem é Augusto Rodrigues?
"A meu respeito, já ouvi historias, referências e elogios que pouco têm a ver comigo. Talvez, uma das coisas mais difíceis do ser humano é a auto-identificação e uma de suas características é fazer um esforço para se revelar e continuar sendo ignorado por si mesmo e confundido pelos outros. Apesar do homem se exprimir por todos os meios jamais se revelará. No mundo atual cada um faz o esforço para viver, talvez fosse mais justo dizer, para sobreviver. Em todo caso me situo como um artista que procura cumprir sua tarefa, a arte. E fazê-lo com esforço e sobretudo com a preocupação constante de que ela seja o reflexo do próprio individuo, ou melhor que seja autêntica".
Houve época em que ele só fazia desenho. Hoje, vê interesse muito maior em todos os aspectos de vida, em todas as coisas. "Acho válido a gente se exprimir por todos os meios, desde que faça com humildade, sem pretensões maiores do que sua mensagem e sem preocupação de ser artista maior do que a medida, e de forma autêntica".
O ARTISTA
Nasceu em Pernambuco, em 1913. Quando começou a ser artista ele mesmo não sabe. "É difícil dizer como e quando comecei a ser artista. Como tese, acho que o artista só o é quando realiza obra de arte. A minha primeira obra, não sei bem quando foi. Em todo caso, sabemos muito bem que as crianças se exprimem livremente, através de todas as atividades artísticas e o fazem por uma necessidade de |expressão, de projeção do seu mundo interior, de identificação com o mundo exterior, mas o que ela realmente faz é expressão. Eu, como todas as crianças, fiz, apesar das dificuldades impostas pela escola, que como toda escola tradicional, demasiadamente intelectualista, e que pretendia ensinar o que a gente não desejava aprender, e coercitiva em relação as coisas que qualquer criança tem vontade de fazer. Na adolescência, já começava um interesse mais acentuado, mais definido por buscar na expressão algo de mais significativo. Creio que aí começa o que se poderia chamar de carreira de um artista".
A RAZÃO DE FAZER ARTE
Para Augusto, o artista faz arte por uma necessidade imperiosa, e impelido a isso. O artista, segundo ele, é um homem só e ao mesmo tempo, um homem que busca a comunicação, a comunhão com os outros homens. Por outro lado, o artista vive e deve viver de arte. Quando ela é feita, não se pode dizer qual o valor que tem, mas depois ela se torna independente e passa a ser uma peça, podendo ter um valor inestimável.
O reconhecimento do artista é muito relativo, no modo de ver de Augusto Rodrigues. O artista pode ter o seu valor descoberto imediatamente, ou somente quando não o necessita mais.
"Não segui propriamente uma escola. É lógico que tive influências. Foram muitas, e todo o artista as têm. Mas, ele só é realmente artista, quando acrescenta algo de novo aquilo que recebeu. Hoje, na medida em que vou me afirmando, essas influencias vão diminuindo Mas ainda existem, sofremos os impactos das obras de arte, sensibilizamo-nos com aquilo que vemos".
Quando Augusto começou não havia propriamente uma receptividade para a obra de arte. "Lembro-me que já procurávamos fazer uma arte distanciada do Academismo, mais ligada a sua época, a chamada, na ocasião, Arte Moderna. Isso foi em Pernambuco. Vim para o Rio, em 35, e comecei a participar da vida artística e fiz muitos amigos. Guignard foi um dos primeiros a me incentivar. Depois conheci Portinari, Lancetti (sic)[Pancetti?].
Hoje, Augusto também fotografa, faz poesia. "Enquanto que no desenho se recebe influêcias da natureza transformando-a, na fotografia, seleciona-se a própria natureza e tira-se o que é significativo. Poesia, meu compromisso é com ela".
Seu desenho, atualmente, é a busca do mais puro, a linha já passa a ter um valor significativo. "A linha e algo que sai de nós, e, ela sofre, muda de acordo com as tensões interiores. Pode ser agressiva, hoje, e amanhã ser terna".
A ARTE NO BRASIL
A arte no Brasil, só em 1922 sofre um processo de reformulação e uma busca de uma arte mais autenticamente brasileira e mais relacionada com o próprio tempo. Isso ocorre com o Movimento da Semana de Arte Moderna, quando os escritores se voltam para uma temática nacionalista. Simultaneamente, a arte tem o mesmo processo. Portinari, nesse período tem grande importância. Agora, evidentemente, há um novo movimento, mas muito recente, que procura incorporar problemas que afligem toda a humanidade. Para Augusto Rodrigues há necessidade de se esperar um pouco para determinar quais os grandes artistas dessa nova fase. "O artista hoje, esta procurando um contato, a comunicação, mas me parece que essa comunicação não é tão grande assim. O artista da geração de Portinari para chegar a um reconhecimento do público demorava um pouco, agora há uma verdadeira corrida, uma ânsia de atingir o povo, quando essa aproximação deve ser feita de forma simples, normal, natural. Não sou muito favorável a exposições em praças públicas. Arte deve ser vista em lugares tranquilos, onde o individuo possa isolar-se e manter um contato íntimo com a obra. Sou favor a criação de museus, em todos os lugares.
A ESCOLINHA DE ARTE NO BRASIL
Além de tudo que ele é, Rodrigues tem um valor imenso dentro da cultura brasileira. Fundou em 1948, a Escolinha de Arte revolucionando todo o método de ensino de até então.
"Via como as pessoas estavam, por uma deformação de educação ausentes de usufruírem dos valore que estão inseridos na obra de arte. Também na minha infância assistir a experiências muito importantes que colaboraram para criação dessa escolinha.
Em 1941, assisti a uma exposição de crianças inglesas, onde havia uma mensagem de confiança muito grande do povo inglês em relação ao futuro do homem. Isso me comoveu muito. Pensei e raciocinei que por detrás daquele trabalho havia um método, um conceito, uma filosofia. Então, comecei a me interessar por compreender como possibilitar às crianças, os meios de se exprimirem livremente, e realizarem totalmente suas capacidades criadoras, e assim, em 48, surge a Escolinha de Arte do Brasil. "Essa Escolinha foi organizada por um grupo de artistas e educadores que não se sentiam realizados dentro do processo comum de educação, desejavam pesquisar, a fim de melhor conduzir o homem ao seu destino".
A Escolinha já tem mais de 20 anos. Além da que funciona aqui no Rio, existem cerca de 30 por todo o Brasil, uma no Paraguai, uma em Portugal, e uma na Argentina. É sociedade civil, sem fins lucrativos, onde a preocupação fundamental é a espontaneidade e a expressão criadora da criança.
4° Caderno P. 6ª.
Em frente / Alunos de arquitetura UPA
Os alunos da Escola de Arquitetura da Universidade do
Pará transferiram "sine die" a exposição de Artes
Plásticas que iria ser promovida na Galeria Angelus, reunindo trabalhos de artistas consagrados como Osmar Pinheiro de Sousa e Waldir Saruby de Medeiros (premiados no concurso do Banco Lar Brasileiro), entre outros.
Motivo: a próxima realização, entre nós da Pré-Bienal, na qual a maioria irá concorrer.
2° Caderno P. 3ª.
Em frente / Exposições
Três granes mostras movimentarão o mundo das artes plásticas no mês de maio que aí vem chegando: a do Governo do Pará, objetivando candidatos para a Pré-Bienal de São Paulo, a do pintor Rolando Villa e a dos universitários de Arquitetura, à frente Osmar Pinheiro de Sousa e Waldir Saruby de Medeiros, premiados no concurso promovido pelo Banco Lar Brasileiro. Tôdas no Teatro da Paz.
2° Caderno P. 3ª.
Em frente / Matisse
Coisa curiosa mas comum em arte somente agora a França está vendo quadros de um francês famoso, Henry Matisse. Algumas telas de Matisse, entre as quais a famosa "A Dança", um dos mais belos quadros da pintura mundial, saíram do Hermitage de Moscou para Paris, pois o francês só os conhecia através de cópia.
2° Caderno P. 3ª.
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Artigos de encontros científicos
Teses
Dissertações
Monografias
Artigos de Revistas
Outras produções